terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Freddie Hubbard morre...1938 - 2008

Morre a lenda do jazz Freddie Hubbard, um dos trompetistas mais importantes e versáteis de sua geração.

Por Leonardo Alcântara

No final de 2007, mais precisamente na véspera de Natal, fomos surpreendidos com a notícia da morte do nosso querido Oscar Peterson. Nesta última segunda-feira (29), no final de mais um ano, outro jazzista genial nos deixa: após sofrer um ataque cardíaco, o trompetista Freddie Hubbard morre aos 70 anos de idade.

Segundo seu empresário, o também trompetista David Weiss, do New Jazz Composers Octet, Hubbard morreu no Sherman Oaks Hospital, no noroeste de Los Angeles. Ele havia sido hospitalizado no dia 26 de novembro.

Nas últimas semanas, aconteceram diversos rumores sobre o estado de saúde de Hubbard. O diário Washington City e o site JazzTimes publicaram notícias que davam conta de que o trompetista havia sofrido um ataque cardíaco e entrado em coma.

2008: O renascimento e o fim de Hubbard

Em junho de 2008, os fãs de jazz foram presenteados com o álbum On the Real Side (70th Birthday Celebration), que celebrava os 70 anos de carreira do trompetista e marcava a sua volta às gravações, o que não acontecia desde o álbum New Colors (2001) devido ao seu estado de saúde. Acompanhado do The New Jazz Composers Octet, Hubbard revigorou o seu repertório regular, sendo elogiado por público e crítica especializada.

Hubbard foi conhecido por sua versatilidade. Tocou com os principais nomes, como Thelonious Monk, Miles Davis, Cannonball Adderley e Coltrane, além de ter participado das principais transformações do jazz durante seus 50 anos de carreira. A revista DownBeat descreve-o como tendo uma sonoridade que combinava a técnica de Clifford Brown, a bravura de Lee Morgan e a sensibilidade de Miles Davis. Sua obra inspirou diversas gerações de músicos, que admiraram o seu estilo exuberante de tocar.

“Ele influenciou todos os trompetistas que vieram depois dele”, disse Marsalis. “Certamente eu ouvi muito do seu trabalho... Todos nós o ouvíamos. Ele tem esse som alto, um grande senso de ritmo e tempo e a grande marca do seu estilo é uma exuberância. Sua técnica é exuberante”.

Hubbard, obrigado por tudo! JM

"The night has a thousand eyes" (Berna, 1989)


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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Dino Miranda: Os ares da terra

O guitarrista e compositor moçambicano Dino Miranda, apresenta sexta-feira, 19, as 20.30 horas o seu disco de estreia “Moya wa Kaya'' em acto a ter lugar no Centro Cultural Franco-Moçambicano. O músico vive radicado em Cape Town, na África do Sul.
No concerto de sexta-feira, Dino Miranda, far-se-á acompanhar por Gibra na bateria (do Timbila Muzimba), Luke Saville nas teclas (músico sul africano e residente em Cape Town), Orlando Venhereque, Saxofone (moçambicano residente em Cape Town), Pateta na percussão, moçambicano residente em Cape Town, o moçambicano Filipinho no baixo baixo, Jimmy Gwaza guitarrista moçambicano, as mocambicanas Raima nos coros residente em Cape Town e a Noelmia do grupo coral Majascoral.
Dino Miranda para além de cantar vai tocar a sua viola acústica, num espectáculo que se espera venha a durar cerca de uma hora e meia.
O jovem guitarrista já colaborou com artistas moçambicanos, da África do Sul, Zimbabwe, Inglaterra, Holanda, Jamaica, Brasil e outros países por ai fora. Entre os vários nomes que Dino Miranda trabalhou figuram nomes de Stewart Sukuma, Chico António, Jeff Maluleke, Teba, Azanaia, 340ml, Freshly Ground,Max Vidima, Napalma, Chris Hinze, Starkey Banton, Prince Malachi, Starkey Banton, Peter Spencer, Dawit Menalik Tafari.
Dino Miranda, entrou na carreira de músico em 1997, primeiro em Maputo, depois em Cape Town, na África do Sul.
Questionado sobre o significado do título do seu álbum de estreia, "Moya wa kaya" ou seja "Ares ou ventos da casa", Dino Miranda disse que trata-se de uma fusão de ritmos da terra em que o afro pop dá mais vida "...neste disco de estreia, decidi interpretar as canções em português, Changana, Ronga e em inglês como forma de privilegiar a minha terra natal. Mas também é através deste género musical e da língua inglesa que conseguirei atravessar fronteiras conquistando o mundo musical através da minha humilde e pacifica mensagem"- explicou Dino.
O jovem foi recentemente graduado pela Universidade de Cape Town.
Num passado recente, foi lançado internacionalmente o ultimo álbum "Friends e Stangers" de Max Vidima, musico zimbabweano, cujo o tema "Mai va Rossi'' 'e da autoria do Dino Miranda.
"Moya wa Kaya" é um disco de 14 canções. Em 2007 lançou o single "Fatal'' , obra que marcou o principio de uma nova era com rumo ao sucesso através de convites a sua participação em festivais internacionais.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Música de Moçambique: Amável lança CD "UNI VERSO"

O GUITARRISTA moçambicano Amável Pinto (Amável) lança esta sexta-feira, 12, em concerto, o seu segundo disco de originais, intitulado “Uni Verso”, o mesmo que verso único, palavra única, um mundo único.
O disco é composto por 14 temas e sai três anos depois do seu primeiro que leva o nome de “Meta Mor Fozes”.
O concerto de lançamento do disco “Uni Verso” será às 20:00 horas, no Centro Cultural Universitário da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Na manhã de sábado Amável tocará em frente à loja Gringo.
Paito Tcheco trabalhou ao lado de Amável para a produção do disco e tocou bateria, viola baixo e fez percussão. Amável fez todas as guitarras e Nádia teve a participação com guitarra ritmo, para além de o disco contar com um tema seu. Por outro lado, participaram os italianos Giuseppe Millici e Gaeteano, que tocaram harmónica e saxofone, respectivamente.
O disco tem vários temas, entre os quais “Minha Terra”, “Rascunho”, “A Voz”, “Tocar Viola”, “Ventos do Além”, “Then you Came”, “Uni Verso”, “Mamana Elidia”, “Nádia Marrabenta” e “Depois da Dor”.
Actualmente, Amável está a dar aulas de guitarra clássica na Escola de Comunicação e Artes (ECA) na Universidade Eduardo Mondlane. “A guitarra clássica foi o que me faltou quando comecei o meu projecto e me faltou. Já tinha ritmos como Rock e Marrabenta, mas para completar o meu projecto me faltava a guitarra clássica”.
Pinto é formado em Guitarra Clássica pela Universidade da África do Sul (UNISA).

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Stanley Jordan nas Lonas Culturais do Rio


Por Leonardo Alcântara (JazzMan!)

Em turnê pelo país desde novembro, o guitarrista Stanley Jordan desembarca no Rio de Janeiro para lançar seu novo CD, “State of Nature”, nas lonas culturais da cidade. Acompanhado do baixista Dudu Lima e do baterista Mamão, Stanley Jordan irá mostrar aos cariocas sua técnica versátil e inovadora, que o deixou conhecido no mundo inteiro como o pianista da guitarra.

Stanley tem uma forte relação de amor com o Brasil e nossa cultura. É fã declarado de Caetano Veloso e Gilberto Gil, além de já ter visitado o país inúmeras vezes. Em uma delas, em 1993, esteve em Vila Isabel – bairro carioca imortalizado nas canções de Noel Rosa e Martinho da Vila – e deu um show no Morro dos Macacos.

“State of Nature”

“State of Nature”, novo cd de Stanley Jordan, marca a estréia do músico no selo Mack Avenue, gravadora de artistas como Sean Jones, Oscar Castro-Neves e Ron Blake. O álbum apresenta diversas surpresas, como Jordan voltando a tocar piano e a participação da cantora Julia Jordan, sua filha. “State of Nature” serve como uma verdadeira terapia musical e reflexão, mostrando a preocupação do guitarrista com o meio ambiente e principalmente o aquecimento global.

Dudu Lima

Dudu Lima e Stanley Jordan tocam juntos desde 2001, quando participaram do Visa Jazz Festival na cidade de Búzios. Em agosto desse ano, em entrevista aqui para o blog JazzMan!, Dudu comentou a parceria e amizade com o guitarrista americano: "Já no primeiro encontro para os ensaios que fizemos em Búzios a energia foi mágica e o som fluiu de uma forma maravilhosa. Assim, vieram as outras tours e já fizemos quase 130 shows em altíssimo astral nesses sete anos. O Stanley é uma pessoa maravilhosa, além de ser um músico genial, e eu fico muito feliz com essa amizade e relação musical que temos", disse. Definido pelo guitarrista Stanley Jordan como um dos "melhores contra-baixistas do mundo", Dudu Lima é um verdadeiro show à parte que já valerá o ingresso.

Serviço:

LONA CULTURAL ELZA OSBORNE - Campo Grande
dia 10 (quarta-feira), 21 horas
Show de abertura com IZAMBIL TRIO
Preço: R$ 25,00

LONA CULTURAL JOÃO BOSCO - Vista Alegre
dia 13 (sábado), 21 horas
Preço: R$ 25,00

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Moçambique: 60 anos dos Direitos Humanos. Como é?


Em debate realizado esta segunda-feira, 8, nos estúdios da Rádio Moçambique em Maputo, foi constatado que a sociedade civil moçambicana, não tem tido o papel de relevo que dela se espera na promoção e divulgação dos direitos humanos no país.
Os painelistas convidados concordaram que, muito embora a observância dos direitos fundamentais da pessoa humana esteja a conhecer melhorias nos últimos anos, persistem actos e práticas que atentam contra os princípios preconizados na Declaração Universal dos Direitos Humanos adoptada há 60 anos pelas Nações Unidas.
Um dos intervenientes neste debate, promovido pela União Europeia e moderado por Edmundo Galiza Matos, criticou o posicionamento das organizações da sociedade civil moçambicana, a quem acusam de estarem mais viradas para projectos que envolvem a alocação de recursos financeiros, em detrimento daqueles que poderiam ajudar na educação das pessoas quanto aos direitos que lhes assiste.
Foram cinco os painelistas participantes:
+ Augusto de Carvalho, Director do Centro de Assistência e Práticas Jurídicas da Universidade Politécnica;
+ Custódio Duma, Advogado da Liga dos Direitos Humanos;
+ Ercínio de Salema, do MISA (Media Institute Of Southern Africa);
+ Pedro Sinai Nhatitima, do IPAJ (Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica; e
+ João Pereira, do MASC (Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil).
Por ocasião dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a União Europeia, através dos seus organismos, está a realizar desde o principio deste mês e até ao dia 14, uma série de actividades, que compreendem palestras, exposições de arte (fotografia e máscaras pintadas) e projecção de filmes e documentários (nacionais e internacionais), cuja temática principal são exactamente os Direitos do Homem.
Ao debate radiofónico assistiram uma dezena de jovens da Associação Moçambicana de Defesa dos Direitos das Minorias Sexuais.
Liderados por Danilo da Silva, os jovens da LAMBDA, puderam denunciar a discriminação e estigmatização de que são vítimas no seio da sociedade moçambicanas, e apelaram às autoridades competentes que abordem a sua situação com toda a seriedade e que os seus direitos sejam consagrados na lei mãe, a Constituição da República de Moçambique.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Show Gabriel Grossi Trio e Raul de Souza


Por Leonardo Alcântara (JazzMan!)
Fotos: Fernanda Melonio

Se me perguntarem como vai a música instrumental brasileira, direi que vai muito bem, obrigado. A noite da última terça-feira (dia 2) foi uma confirmação disso, quando presenciei o belo encontro de duas gerações da música instrumental. Dando continuidade ao projeto Circular BR, no Teatro Caixa Cultural, o jovem gaitista Gabriel Grossi convidou o trombonista Raul de Souza, um dos nossos expoentes musicais.

Gabriel Grossi abriu o show já mostrando por que é considerado um dos grandes instrumentistas do atual cenário instrumental brasileiro. Junto ao seu trio, completado pelos jovens Guilherme Ribeiro (Teclado) e Serginho Machado (Bateria), Grossi impressionou por sua habilidade em uma performance que mesclava momentos de suavidade e virtuose.

Com o repertório diversificado, Grossi e seus "irmãos de som" – assim como ele mesmo definiu seus companheiros – executaram com muita autoridade músicas com melodias que transitavam em diversas vertentes da música brasileira, como bossa, forró e samba. Composições próprias, que ratificavam o talento autoral de Grossi, eram alternadas com músicas de compositores influentes, como Baden Powell e Noel Rosa.

Num momento marcante, Grossi deu vez ao experimentalismo na música “Dama de Ouro”, distorcendo o som de sua gaita em uma performance imprevisível, repleta de efeitos inusitados. Depois, Grossi revelou que a tal “Dama de Ouro” na verdade é uma cachaça.

Antes de chamar Raul de Souza, Grossi executou "Toca Raul", música feita em homenagem ao trombonista e uma alusão ao famoso "toca Raul!" que ouvimos nos shows. Mas o Raul da vez era o de Souza. O próprio Gossi explicou a composição: "As pessoas nos shows costumam gritar "toca Raul". Mas esse Raul aqui é o nosso Raul de Souza", disse.

Na metade do show, Grossi chamou Raul para dividir o palco, no grande momento da noite. Visivelmente emocionado, Grossi disse: "está chegando um dos grandes pioneiros da nossa música instrumental, o nosso muso inspirador, Raul de Souza".

Os dois começaram tocando “Só por amor”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes, com direito a um longo e belo solo de Raul, que mostrou a versatilidade e técnica de sempre. Quando os dois se colidiam, mantinham suas marcas vigorosas de energia e improviso, numa apresentação marcada pelo sentimento e pela qualidade do trabalho desenvolvido.

No final do show, Raúl agradeceu o carinho: "estou muito feliz em voltar a tocar na minha cidade natal. Fico honrado em tocar com essa rapaziada jovem e brasileira, que hoje pode improvisar à vontade". E nós, mais honrados ainda em acompanhar tudo isso. JM

Fotos:
Gabriel Grossi TrioGabriel GrossiRaul de Souza
Gabriel Grossi Trio & Raul de SouzaGabriel Grossi Trio & Raul de SouzaGabriel Grossi Trio


http://www.gabrielgrossi.com/
http://www.myspace.com/gabrielgrossi

http://www.myspace.com/rauldesouzaofficialsite

Projeto Circular BR
http://circularbr.com.br/

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Maputo: os Fourplay sob as acácias rubras

Os “Fourplay” apresentam-se sexta-feira, no jardim municipal da Matola, cidade-satélite da capital moçambicana Maputo, a cidade que inspirou o baixista Marcus Miller a compor o tema “Maputo” nos 1980, em parceria com o tecladista Bob James e o saxofonista David Sanborn.
Este quarteto de jazz integra exímios instrumentistas: Bob James (tecladista), Nathan East (baixista), Larry Carlton (guitarrista) e Harvey Mason (baterista).
“Nascido de uma pequena ideia” que passou pela cabeça de Bob James de viver e tocar o jazz a quatro, a banda desembarca quinta, 4, depois de ter actuado semana passada no México. Ruma depois para Johanesburgo, a capital económica da África do Sul.
Quem já se encontra a respirar os aromas da cidade das acácias (o nosso dezembro é rubro) é Bob James para, como declarou ao jornal “Notícias”, “aproveitar sentir o pulsar de uma terra a que venho pela primeira vez”, embora a palavra “Maputo” tenha estado na ponta da sua lingua nos dias que antecederam ao arranjo final do tema proposto por Marcus Miller.
Muita produção musical do “Fourplay” ou de cada um dos seus integrantes vai “girar” no palco do jardim municipal da Matola (de que sou vizinho). Uma miscelânia para ser mais exacto: “Elixir”, “A Summer Child”, “Between The Sheets”, entre outras.
Os seus fãs moçambicanos sabem que a sua carreira estende-se por mais de quatro décadas, marcada no início pela memorável actuação no Festival de Jazz de Notre Dame, em 1962.

FOURPLAY

Tecladista, produtor, arranjista e compositor. Os seus fãs moçambicanos sabem que a sua carreira estende-se por mais de quatro décadas, marcada no início pela memorável actuação no Festival de Jazz de Notre Dame, em 1962. Um músico de estúdio por excelência bastante requisitado por tantos músicos, Earl Klug e David Sanborn. Até mesmo como director musical da insuperável Sarah Vaughan. 27 albuns a solo, três produções clássicas – aqui tem BOB JAMES.

“With a Little From My Friends” é a mais importante obra do guitarrista LARRY CARLTON. “Parida” há quarenta anos exactos. Breve passagem pelo “The Crusaders”, seguida de uma carreira a solo e as inevitáveis solicitações de parcerias, entre elas, Barbara Streisand e Joni Mitchel, esta celebrizada, entre outros temas por “Big Yellow Taxi”. Carlton entrou para o quarteto pela vaga deixada por Lee Ritenour.

Phill Collins, Eric Clapton, Michael Jackson e Babyface, esses “monstros” da World Music podem testemunhar que alguns dos seus sucessos foram escritos por NATHAN EAST. A mão deste baixista “mexeu” no “Unplugged In NYC” do BFace, 1997, participado por EClapton, Stevie Wonder, Shanice Wilson, os Boyz II Man. Os feitos do Nat não cabem aqui, mas aí vai mais um: digressões mundiais com Clapton durante anos tocando o “superplatinado” álbum “Unplugged”.

Poucos serão certamente aqueles que tiveram o privilégio de trabalhar com gigantes do jazz como Duke Ellington e Errol Garner. Viu e viveu o nascimento e posterior “explosão” da mítica editora “Jazz Blue Note”, “rufou” a bateria no Herbie Hancock qnd The Headhunters e em várias outras bandas, vencedoras umas de discos de ouro e outras de platina e, vejam só, tocou em 150 trilhas musicais de filmes e actuou em 11 festas de premiação dos Óscares. HARVEY MASON, de seu nome.

Este é o FOURPLAY que Maputo (Matola) vai ouvir sexta-feira. Fundado em 1991. Mais de dez álbuns, um milhão de cópias vendidas pelo mundo inteiro: clássicos, jazz, pop, rock, blues e R&B, tudo isso, é suficiente para alegrar até ao rubro as acácias da “Pérola do Índico”.

sábado, 29 de novembro de 2008

Roberto Muggiati - Improvisando Soluções

ENTREVISTA EXCLUSIVA - Roberto Muggiati

O blog JazzMan! tem a enorme honra de entrevistar o jornalista Roberto Muggiati, um dos mais importantes escritores e historiadores de jazz em nosso país.


Por Leonardo Alcântara (JazzMan!)
Colaboração: Fernanda Melonio e Vagner Pitta

O jornalista curitibano Roberto Muggiati tem sido nos últimos anos uma verdadeira autoridade no que tange à difusão do jazz entre os brasileiros. Com diversas publicações sobre o gênero, Muggiati consegue mostrar ao leitor, com uma linguagem agradável e elegante, que o jazz não é nenhum bicho de sete cabeças e que está além de um simples gênero musical, podendo ser utilizado como fonte de inspiração para diversas situações e decisões ao longo da vida.

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Esta idéia é reforçada em seu último lançamento Improvisando Soluções: o Jazz como Exemplo para alcançar o Sucesso (Best Seller, 2008), onde o escritor cita diversos exemplos de jazzistas que superaram as mais variadas adversidades para impor a sua arte. Superação e improviso fazem parte da história e da estética do jazz, onde seus vitoriosos protagonistas transformaram vivências e sentimentos em uma arte espontânea, que permanece viva há mais de um século.

Roberto Muggiati estará no dia 05/12, em Curitiba, sua cidade-natal, para o lançamento do livro Improvisando Soluções: o Jazz como Exemplo para alcançar o Sucesso. Antes disso, ele generosamente nos concedeu a entrevista abaixo.

JazzMan!: O que foi que te chamou a atenção no jazz? Como foi o processo até se tornar um dos grandes escritores brasileiros do gênero?

Roberto Muggiati: Com pouco mais de dez anos de idade, ao ouvir naquelas velhas bolachas de 78 rotações-por-minuto os sons de Art Tatum, Nat King Cole, Louis Armstrong e Duke Ellington, percebi que aquela música era diferente das demais — era mais viva, mais inteligente, menos previsível e programada. Daí para o bebop de Charlie Parker e Dizzy Gillespie, para as invenções pianísticas de Bud Powell e Thelonious Monk, para o saxofone cool de Lester Young, foi a descoberta do jazz moderno, complementado depois pela escola da Costa Oeste (Stan Getz, Gerry Mulligan e Chet Baker, Shorty Rogers e seus grupos, a orquestra de Stan Kenton).

Como escrevia desde pequeno, a carreira enveredou para o jornalismo (e depois para os livros) e escrever sobre jazz — a música que amava acima de todas, foi um passo natural.

JM: Desde 2005 estamos tendo uma onda crescente de festivais de jazz pelo país. Os Festivais de Ouro Preto e Rio das Ostras já são reconhecidos como alguns dos melhores do mundo. Você acredita que prefeituras, produtoras e empresários estão descobrindo o poder do jazz?

RM: Com certeza. Você já ouviu falar dos festivais de Manaus, de Guaramiranga (no Ceará), de Joinville (Santa Catarina) e dezenas de outros “pocket festivals” nas capitais do Brasil. A maioria conta com patrocinadores públicos ou privados, indicação de que os marqueteiros descobriram finalmente o poder de penetração do jazz e a sua marca de qualidade e sofisticação.

JM: Como você avalia a difusão do jazz no Brasil?

RM: Ainda é pequena, apesar dos sites e blogs que existem. Mas publicações especializadas são raras, ou sazonais. Se você se der conta de que uma revista de uma grande editora sobre rock – a Bizz, da Abril – deixou de circular, a situação é ainda mais difícil para o jazz. Mas, graças principalmente à internet, o jazzófilo – como o jazzista – sabe se virar e encontra suas fontes de informação.

JM: No livro New Jazz: de volta para o futuro, você escreve a respeito de músicos que ficaram conhecidos como os Young Lions, surgidos nos anos 80 e 90 com a proposta de preservar uma tradição jazzística. Quais as diferenças entre essa geração mais recente e as anteriores, das décadas de 60 e 70, e quais as contribuições dos Young Lions para o futuro do jazz no século XXI?

RM: A geração dos irmãos Marsalis & Cia teve mais acesso do que as anteriores ao aprendizado não só do jazz, como da música em geral. (Muitos, como Wynton e seu irmão saxofonista Branford, são também exímios executantes do repertório erudito). Mas esta geração – embora toque admiravelmente bem – se viu condenada a uma releitura de todas as escolas do jazz que a antecederam, sem a capacidade de criar algo “novo”. (Este problema da criação do “novo” se aplica também a todas as outras artes: pintura, literatura, teatro, etc. — é uma espécie de característica da época, um momento, talvez, de apreender tudo o que já foi feito antes de começar algo novo, um momento de espera).

JM: O crítico inglês Stuart Nicholson, em seu livro Is Jazz Dead? (Or Has It Moved to a New Address), gerou polêmica ao dizer que o jazz europeu detém os reais inovadores do jazz contemporâneo, pois essa geração de Wynton Marsalis cristalizou o jazz em uma música baseada no tradicionalismo e esqueceram da necessidade de criatividade e inovação. Você concorda com as palavras de Nicholson?

RM: Nem o jazz morreu, nem se mudou para um novo endereço (a comunidade dos euros). Podemos dizer que se espraiou por uma série de novos endereços e, registre-se aí, além da contribuição européia, as contribuições latino-americana (Brasil, Argentina, Cuba, México), asiática (Japão, China, etc), africana e por aí vai.

JM: Como você avalia os músicos que surgiram a partir dos anos 2000? Qual a proposta da nova geração?

RM: É uma geração pulsante de talentos, experimentando todo tipo de formatos musicais e explorando todas as possibilidades no campo da instrumentação. A meu ver, um fato importante é a ascensão da mulher, não mais presa ao papel da crooner, mas competindo com os homens em instrumentos “viris” como o contrabaixo, a bateria, o trombone e o saxofone. Sem mencionar que a grande band-leader e orquestradora da década é uma mulher, Maria Schneider.

JM: Fale-nos um pouco sobre o Improvisando Soluções, seu mais recente livro. Como surgiu a idéia de escrevê-lo?

RM: Como eu relato no próprio livro, a idéia tomou corpo a partir de um curso que dei em Porto Alegre em fevereiro de 2006, no Espaço Cultural Santander, sobre os Cem Anos do Jazz, três palestras de três horas que tiveram a ocupação da sala completa, incluindo homens e mulheres nas faixas etárias de 16 a 80 anos. A receptividade deste público de quase cem pessoas me despertou a idéia de escrever um livro sobre “vivências do jazz”, sem elaborar demais na parte técnica ou musical, mas enfatizando as lições de vida dos mestres do improviso.

JM: Neste livro, você relata uma passagem em que o jazz o salvou de um suicídio. Em algum outro momento o jazz o influenciou em outras decisões importantes?

RM: Não só nesta ocasião crítica, mas em situações do dia-a-dia, o jazz sempre contou muito em minha vida — na tentativa de tocar saxofone, estudando dez anos com o Mauro Senise, como na cobertura de shows e festivais, na descoberta de novos álbuns dos grandes mestres e também de músicos “menores” porém altamente significativos. O jazz sempre atuou no meu mecanismo de memória como a famosa “madeleine” proustiana, cada época ou momento de minha vida amarrado a esta ou aquela música. Basta ouvir hoje, por exemplo, Sarah Vaughan cantando Over the Rainbow acompanhada do saxofonista Cannonball Adderley que eu viajo na máquina do tempo até aquele ano mágico de 1958, meio século atrás, e revivo exatamente o que eu fazia, o que eu sentia na ocasião.

JM: Você cobriu o Festival de Montreux (1985 a 1988) e a maioria das edições do antigo Free Jazz. Quais as lembranças mais marcantes destes festivais?

RM: Existem os punti luminosi, como as apresentações de Hermeto e o dueto de Hermeto com Elis (1979), de João Gilberto (1985), a volta de Miles Davis aos palcos (1985), tudo isso em Montreux, a big band de Gil Evans no Hotel Nacional, o show grátis de Sonny Rollins no Parque da Catacumba, no Rio, a entrevista exclusiva de uma hora com Chet Baker e sua apresentação no primeiro Free Jazz, em 1985; a Mingus Band com Elvis Costello no MAM; ali mesmo, o conhecimento dos novos talentos de Terence Blanchard, Nicholas Payton, James Carter, John Pizzarelli, a comovente apresentação de Michel Petrucciani no Hotel Nacional; e, também ali, a do veterano violinista Stephane Grappelli; a maestria de veteranos como Lee Konitz, Art Farmer e Johnny Griffin. Rever Griffin (no Rio) e Dexter Gordon (em São Paulo 1980 e Montreux 1986) foi viajar de volta a Londres em 1962-63, quando eles passaram cada um um mês inteiro no Ronnie Scott's Jazz Club. Dizzy Gillespie e sua United Nation Orchestra no Free Jazz. Enfim, são momentos marcantes de música, que a gente não esquece jamais.

JM: Uma última pergunta para descontrair: no hino do Flamengo há os versos que dizem: "Eu teria um desgosto profundo/Se faltasse o Flamengo no mundo...". Se fosse o jazz que faltasse, como seria?

RM: Eu teria um desgosto profundo se o jazz faltasse, mas isso nunca vai acontecer. A propósito, há uma cantoria que rola nos estádios brasileiros entre as torcidas que é puro jazz, o refrão de When the Saints Go Marchin' In — tararará, tararará, tararará-rá-rá-rá-rá, tarará, tará, tarára, tarará, rá-rá-rá-rá! Repito a você a pergunta que até hoje ninguém me respondeu: como foi que está canção de New Orleans veio parar nas arquibancadas do Maracanã? Tenho a minha teoria: ela chegou através das charangas, aquelas bandinhas de torcida, como a famosa banda do Bangu e a Charanga do Flamengo, que captaram When the Saints através de discos ou até através das apresentações pela rádio e TV do incrível Booker Pitman. É um mistério digno de uma profunda pesquisa. Quem se habilita? JM

Título: Improvisando Soluções
Autor: Roberto Muggiati
Editora: Best-Seller
Ano: 2008
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