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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Entrevista Exclusiva: Ithamara Koorax

Ithamara Koorax e JazzMan! Foto: Fernanda Melonio

Por Leonardo Alcântara (JazzMan!)
Fotos: Fernanda Melonio

Eleita pela Revista DownBeat como a terceira melhor cantora de Jazz do mundo em 2008, a brasileira Ithamara Koorax é um dos nomes mais importantes da atual cena jazzística mundial. Sua criatividade, aliada a uma técnica vocal ímpar, faz com que Ithamara seja reconhecida no exterior, rendendo-lhe críticas positivas, prêmios e convites para cantar nos mais importantes palcos e festivais espalhados pelo mundo.

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Show no Mistura Fina

Na semana passada, a fotojornalista Fernanda Melonio e eu tivemos a oportunidade de prestigiar os primeiros shows de sua turnê brasileira, no Mistura Fina, em Ipanema. Acompanhada de uma super banda que mesclava novos músicos (Jorge Pescara (baixo) e Rodrigo Lima (guitarra)) e veteranos influentes (José Roberto Bertrami (teclados), Haroldo Jobim (bateria) e Paulo Fernando Marcondes Ferraz (percussão)), Ithamara impressionou um Mistura Fina lotado com sua potente técnica vocal e sua comovente interpretação para um repertório diversificado. Seja cantando clássicos brasileiros (Desafinado e O Pato), ou standards americanos (My Favorite Things e The Shadow of Your Smile), Ithamara entrava e saía muito bem nas mais variadas vertentes, mostrando ao público a característica principal de sua obra: a versatilidade. Simpática e atenciosa com uma platéia calorosa, Ithamara deixou sua marca, provando que a escolha da revista DownBeat não é mero acontecimento, mas a confirmação e o reconhecimento a uma cantora em puro momento de inspiração e criatividade.

Fotos do show:
Ithamara KooraxIthamara Koorax & Rodrigo LimaPaulo Fernando Marcondes FerrazIthamara Koorax & Jorge Pescara
Ithamara Koorax & bandaIthamara KooraxIthamara KooraxIthamara Koorax & banda

Brazilian Butterfly Tour 2009

Ithamara Koorax dará seguimento à sua turnê brasileira, no Bar do Tom, Leblon, durante os dias 9, 10, 16 e 17 de janeiro. A casa dispõe de 350 lugares e os preços são: R$ 60,00 (Setor Palco / 92 lugares; R$ 50,00 (Setor A / 52 lugares); R$ 40,00 (Setor Par / 118 lugares) e R$ 40,00 (Setor Par / 92 lugares). Detalhes: http://www.plataforma.com/br_tprog.htm

Depois, a turnê segue para Curitiba, Belém, São Paulo, Ásia e Europa. Antes disso, Ithamara generosamente nos concedeu uma bela entrevista, onde comenta sobre os pontos principais de sua carreira.

JazzMan!: Você acaba de ser eleita a 3ª melhor cantora de jazz do mundo pela revista DownBeat. Mas sua obra é marcada pela diversidade: seu repertório pode agradar tanto aos fãs de Jazz, quanto aos de Lounge/Eletrônico, Smooth Jazz, Bossa, Samba e outros. Como você lida com o rótulo de cantora de Jazz e como define seu trabalho?

Ithamara Koorax: Lido bem com este rótulo e com qualquer outro, porque eu não me importo com rótulos. Defino meu trabalho como "música universal", aberta a todas as influências. Meus detratores (brasileiros, claro) dizem que eu me auto-rotulei como cantora de jazz, mas isso jamais aconteceu. Este carimbo veio primeiro da crítica japonesa, quando lancei o "Rio Vermelho" em 1995 e o disco chegou ao 10º lugar em vendas na parada de jazz da revista "Swing Journal", com o Frank Sinatra em 11º. E se consolidou depois que o "Serenade in Blue" foi lançado no mercado americano em 2000.

De qualquer modo, ser rotulada como "jazz singer" pela comunidade jazzística internacional é, obviamente, um grande elogio. Me sinto lisonjeada quando sou reconhecida não apenas pelos leitores das revistas, mas também por críticos como Ira Gitler, Scott Yanow, Thom Jurek, Fred Bouchard e Frank-John Hadley. Aliás, não coincidentemente, eles são mais do que críticos, são considerados os cinco maiores historiadores de jazz na atualidade, escreveram livros importantes. E todos, exceto o Jurek, que é editor do All Music Guide, escrevem para a DownBeat. Ira Gitler é co-autor, ao lado do falecido Leonard Feather, da famosa série de "Enciclopédias do Jazz" que são a referência máxima no assunto e se apaixonou pelo meu trabalho em 2002, tanto que aceitou escrever o texto do livreto do CD "Love Dance". Yanow acaba de lançar o livro "The Jazz Singers: The Ultimate Guide", no qual me incluiu entre as melhores cantoras de jazz de todos os tempos, tendo deixado de fora nomes como Norah Jones, Joni Mitchell, Esther Phillips, Madeleine Peyroux e a espetacular Rachelle Ferrell. Não vou entrar numa ego-trip por causa disso, mas é claro que fico feliz.

JM: Alguns audioblogs disponibilizam seus cds para download de graça. Em um deles, o “Música da Boa”, há vários álbuns de sua discografia para baixar. Uma das postagens corresponde ao download do álbum Brazilian Butterfly (2006), onde você deixou uma mensagem de parabéns para o autor do blog e não se incomodou. Enquanto cantora, como você avalia o compartilhamento de suas músicas na internet: ajuda ou atrapalha?

IK: Eu acho que ajuda. A pessoa que gostar mesmo tende a comprar o disco ou pelo menos a ir ver algum show. Mas fico preocupada com o lance dos direitos autorais, porque os compositores não podem viver de brisa.

JM: Em julho de 2003 você teve a oportunidade de se apresentar no programa de Fausto Silva, na Rede Globo. Muitos criticam o programa e o rotulam de "povão" por mostrar atrações de forte apelo popular, mas sua apresentação mostrou um outro lado: você manteve o Ibope do programa crescente cantando músicas como "Cristal", "Mas Que Nada", "The Shadow of Your Smile", além de improvisar para uma platéia calorosa e impressionada por sua potência vocal. Você acredita que isso é uma prova de que esse papo de que o povo não quer ouvir coisas diferentes é mito e que o problema está na difusão e não nas pessoas?

IK: Claro que é isso! Você já explicou tudo! Eu fui convidada para cantar no Faustão logo depois de ter assinado com a Som Livre para lançar o "Love Dance" no Brasil em 2003. Pediram que eu preparasse duas músicas ("Cristal" e "Iluminada", por terem sido temas de novelas) e disseram que havia a possibilidade de uma terceira música, "Aquarela do Brasil", porque o Fausto tinha gostado da minha gravação e queria aproveitar para fazer uma homenagem ao Ary Barroso. Mas esta terceira música só aconteceria se o Ibope não caísse. Pois bem: não só o Ibope não caiu, como subiu e não parou de subir. Fiquei no ar por quase 20 minutos e o programa se manteve como líder de audiência o tempo todo, batendo o Gugu, que era o grande concorrente naquela época. Tudo inteiramente ao vivo e sem ensaio! E sem playback. Levei minha banda e tocamos o que o Faustão ia pedindo.

Teve uma hora em que, depois do Caçulinha me elogiar, o Fausto começou a dizer: "olha só o agudo dela, parece sintetizador". E pediu para que eu improvisasse alguns efeitos a capela. Ele disse literalmente: "se vira nos 30"! Eu me diverti muito naquela tarde, o CD "Serenade in Blue" esgotou no Brasil todo (o "Love Dance" ainda não tinha sido lançado), e depois do programa a direção da Globo me homenageou com um jantar.

A parte chata da história foi que minha presença no programa gerou muita inveja, recebi quase uma centena de e-mails desaforados (enviados, claro, pelos "anônimos" sempre covardes) e muitos comentários negativos foram postados na internet. Precisei até tomar providências jurídicas quando os insultos atingiram o nível de difamação. Teve um músico de São Paulo, que a perícia conseguiu identificar, que me mandou um e-mail como se fosse o Jorge Benjor, usando o endereço de e-mail dele. Na mensagem ele me acusava de ter assassinado o "Mas Que Nada" e pedia que eu nunca mais cantasse a música. Veja a que ponto a coisa chegou! Isso eu acho lamentável e tristíssimo, porque alguém que se pretende artista ficar falando mal de colega de trabalho na internet é o fim da picada.

Outro dia eu li, num blog horroroso, que eu só era conhecida nos Estados Unidos pelos "japoneses endinheirados" (!!!) e que só fazia shows em cruzeiros. Logo eu que nunca cantei em navio! E se cantasse também não teria nada demais, porque até o Herbie Hancock e o Marcus Miller tocam em cruzeiros.

JM: Na lista das melhores cantoras do mundo da revista Downbeat, elaborada por seus leitores, você figura logo atrás de Dianna Krall e Cassandra Wilson. As duas são da geração dos Young Lions, composta por músicos surgidos nos anos 80 e 90 com a proposta de valorizar as tradições jazzísticas e que custa a absorver inovações. Mas trabalhos como Love Dance e Brazilian Butterfly são totalmente diferentes dessa proposta. Como você conseguiu vencer nesse mercado?

IK: Justamente por conta da tal "imprevisibilidade", que também significa criatividade. Paradoxalmente, demorei muito mais a entrar no mercado americano pela mesma razão, pois é um mercado realmente mais "protecionista".

A mesma coisa aconteceu com a Flora Purim. Ela morava nos EUA desde 1968, excursionava pela Europa com o Stan Getz, tinha gravado em Londres com o Chick Corea ("Light As A Feather"), mas só despontou na cena jazzística americana em 1974, quando chegou ao primeiro lugar na eleição dos leitores da DownBeat ao lançar um disco nos EUA, o "Butterfly Dreams". Ela venceu por cinco anos seguidos, até 1978, numa época em que as grandes divas, como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Carmen McRae e Betty Carter, ainda estavam vivas e cantando uma barbaridade. Mas a Flora chegou com uma sonoridade inovadora, totalmente diferente daquele scat-singing de bebop, e foi isso que chamou a atenção.

Entre 1990 e 2000, eu só atuava na Ásia e na Europa, onde também estabeleci um nome na área da dance-music. Mas apenas ao lançar o "Serenade in Blue" nos EUA, em 2000, foi que as portas do mercado americano começaram a se abrir. Mesmo assim, é claro que a popularidade da Diana Krall, a quem eu admiro muito, é mil vezes maior que a minha.

JM: A exemplo de Flora Purim e Tânia Maria, você saiu do Brasil para fazer a sua carreira, conquistando o mercado americano, europeu e japonês, sendo muito elogiada por público e crítica e colhendo prêmios por seus trabalhos. Mas no Brasil muitos não sabem disso. Suas músicas já foram trilhas de novelas e filmes aqui, mas raramente são executadas nas rádios, mesmo tendo em seu repertório músicas que podem ser radiofônicas. De alguma maneira isso a incomoda? Conquistar o mercado brasileiro é um de seus desafios?

IK: Várias vezes eu tive, no Brasil, a sensação de ser "invisível". Mas não é culpa minha nem do público, que lota todos os meus shows se souber que aquele show está acontecendo. A superlotação que você viu duas noites seguidas no Mistura Fina não é novidade alguma. Eu canto no Mistura desde 1990, meu primeiro ano de carreira profissional. E todas as temporadas são um sucesso de público. Sempre rolam os pedidos de shows extras e eu já fiquei até três semanas em cartaz. Este ano isso só não vai acontecer no Mistura porque eu já tinha me comprometido em levar o show para o Bar do Tom.

Você é testemunha ocular da forma calorosa como a platéia me trata, interage, canta junto. Eu AMO fazer shows, Principalmente no Brasil. Em 2005, eu fiz uma temporada de três meses no Sofitel. Em 2006, foram quatro meses seguidos de casa lotada! Só que nem sempre a imprensa noticia isso. Mas eu costumo viajar bastante pelo Brasil. Vou de Rio Branco (Acre) a Ipatinga (Minas Gerais), de Teresina (Piauí) a Sorocaba (São Paulo), sempre com casa cheia. Eu sou um fenômeno! (rssss)

Meu desafio não é conquistar nada, é apenas levar o meu canto ao maior número possível de lugares, no mundo todo. E o Brasil faz parte do mundo. Como eu mantenho sempre o mesmo padrão de qualidade, sempre dou ao público o melhor de mim, tenho o mesmo prazer em cantar em Zurique ou em Nova Iorque ou em Belém do Pará.

JM: Você já cantou e gravou com grandes gênios da música. Podemos citar verdadeiros inovadores como Tom Jobim, Claus Ogerman, Dom Um Romão, Elizeth Cardoso, John McLaughlin e muitos outros. De onde vem essa facilidade de tocar com tantos nomes de peso? Ainda há alguém com quem você queira fazer uma parceria?

IK: Todos esses encontros aconteceram naturalmente. Quando você ama muito a obra de um artista, estabelece-se uma conexão espiritual e um dia o encontro físico se realiza.

Eu ouvia Elizeth Cardoso desde a minha infância, foi a minha primeira cantora favorita porque meus pais tinham vários discos dela. Um dia eu fui a São Paulo fazer um show, com Guinga e Paulo Cesar Pinheiro, e quem estava na platéia? Elizeth! Até aí tudo bem, ela podia nem ter gostado do meu estilo. Mas no final do show ela pediu para subir ao palco e ficou uns cinco minutos me elogiando. Eu não acreditava que aquilo estava acontecendo! Depois eu a convidei para assistir um outro show no Rio e ela virou minha madrinha artística.

O Tom Jobim ouviu meu primeiro CD, "Ao Vivo", vencedor do Prêmio Sharp em 1994, porque ganhou um exemplar de presente da irmã dele. O disco tinha umas três ou quatro músicas do Tom e ele gostou tanto que um dia me ligou e falou: "Do próximo disco eu quero participar". Achei que ele tinha sido gentil ao falar aquilo, mas resolvi arriscar e o convidei quando comecei a fazer o "Rio Vermelho". Ele aceitou de imediato e gravamos algumas músicas em outubro de 1994. Somente uma entrou no disco, as outras gravações permancem inéditas. Mas uma das músicas era "Absolut Lee", que eu regravei depois para a trilha da novela "Celebridade" em 2003.

Dom Um eu conheci em 1991, em Nova Iorque, e depois nos reencontramos em 1996, quando ele foi assistir a um show meu com o Azymuth. No final, foi até a beira do palco me cumprimentar, beijou as minhas mãos e disse: "precisamos fazer um som juntos!" Tenho isso filmado! E tocamos pelo mundo todo até 2005. O McLaughlin e o Ron Carter eu conheci através do Luiz Bonfá, que foi meu vizinho na Barra da Tijuca por dez anos. Ele foi um pai musical para mim.

Com o Claus, o Sadao Watanabe e o Larry Coryell também fluiu de uma forma espontânea. Talvez a única exceção tenha sido o Jay Berliner, que foi guitarrista do Charles Mingus. Eu sempre fui apaixonada por discos dele com o Milt Jackson ("Sunflower") e com o George Benson ("White Rabbit"), e resolvi convida-lo para participar do "Serenade in Blue". Ele não sabia quem eu era, mas gostou dos discos que eu mandei e aceitou gravar. Também não posso deixar de falar do Dave Brubeck, que é um grande amigo e me apadrinhou na comunidade jazzística americana porque é muito influente. Além de gênio, é o gentleman dos gentlemen. Tocar e conviver com esses mestres é mais importante do que qualquer prêmio.

JM: No seu show, fiquei muito comovido com a maneira que você se entrega no palco. Estavas tão simpática, bonita, elegante... Se expressava das mais diversas formas, seja triste ou alegre, como se ali não estivesse apenas uma Ithamara. Quem é a Ithamara Koorax no palco? Quem são essas Ithamaras que há dentro de você quando está cantando?

IK: É a mesma Ithamara Koorax do dia-a-dia, sujeita a diferentes emoções e que se expressa de várias maneiras, mas é sempre a mesma pessoa, dentro ou fora do palco. Durante o dia tem momentos em que você está reflexiva, em outros mais agitada, em outros mais emocionada ou com a sensualidade mais aflorada. Tudo isso vai automaticamente para o palco na hora do show. Eu não controlo nem disfarço minhas emoções. Uma vez, durante um show em Seul, na Coréia, em 2006, o público me acolheu de uma forma tão carinhosa, rolou uma empatia tão grande, que eu e a platéia choramos juntos, e terminei o show aos prantos, de tanta felicidade. Num concerto com a Orquestra Jazz Sinfônica, em São Paulo, em 2005, eu também não segurei o choro quando dediquei "Mas Que Nada" ao Dom Um Romão, que tinha acabado de falecer. Parecia que ele estava ao meu lado no palco, cantei arrepiada o tempo inteiro. Este vídeo alguém até colocou no YouTube. Em dezembro último, o concerto em Nova Iorque ao lado da big-band Amazon, do Maestro Thiago de Mello, celebrando os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, também foi emoção pura.

JM: Para finalizar: você teve um ano maravilhoso em 2008 e estará gravando um novo álbum em abril. Pode adiantar alguma coisa de como será 2009?

IK: Eu tento me planejar o mínimo possível, gosto das coisas fluindo naturalmente. Tanto que, embora eu esteja com dois discos recém-lançados (os tributos a Dom Um Romão e Stellinha Egg), os shows no Mistura Fina não tiveram nenhuma ligação com eles. Bolei um show totalmente diferente, incluindo apenas quatro músicas de discos antigos, como "The Shadow of Your Smile", "Un Homme et Une Femme", "I Fall in Love Too Easily" e "Mas Que Nada", e temas que eu adoro mas que ainda não gravei.

O repertório do próximo disco será escolhido pelo público brasileiro, durante esta turnê. As pessoas recebem uma cartela e escolhem cinco músicas que gostariam que eu gravasse.

Depois dos shows no Rio, sigo para Curitiba, Belém e São Paulo. Depois, Ásia e Europa. Volto no final de abril para gravar o disco no Brasil e aí começo um novo ciclo. Tenho encomendas de músicas para outros artistas e para trilhas de filmes. O prazer de poder me reinventar, sem depender da autorização de gravadora ou permissão de empresário, é indescritível. A liberdade é o maior tesouro! JM

http://www.koorax.com/
http://www.ithamarakoorax.blogspot.com/

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sábado, 29 de novembro de 2008

Roberto Muggiati - Improvisando Soluções

ENTREVISTA EXCLUSIVA - Roberto Muggiati

O blog JazzMan! tem a enorme honra de entrevistar o jornalista Roberto Muggiati, um dos mais importantes escritores e historiadores de jazz em nosso país.


Por Leonardo Alcântara (JazzMan!)
Colaboração: Fernanda Melonio e Vagner Pitta

O jornalista curitibano Roberto Muggiati tem sido nos últimos anos uma verdadeira autoridade no que tange à difusão do jazz entre os brasileiros. Com diversas publicações sobre o gênero, Muggiati consegue mostrar ao leitor, com uma linguagem agradável e elegante, que o jazz não é nenhum bicho de sete cabeças e que está além de um simples gênero musical, podendo ser utilizado como fonte de inspiração para diversas situações e decisões ao longo da vida.

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Esta idéia é reforçada em seu último lançamento Improvisando Soluções: o Jazz como Exemplo para alcançar o Sucesso (Best Seller, 2008), onde o escritor cita diversos exemplos de jazzistas que superaram as mais variadas adversidades para impor a sua arte. Superação e improviso fazem parte da história e da estética do jazz, onde seus vitoriosos protagonistas transformaram vivências e sentimentos em uma arte espontânea, que permanece viva há mais de um século.

Roberto Muggiati estará no dia 05/12, em Curitiba, sua cidade-natal, para o lançamento do livro Improvisando Soluções: o Jazz como Exemplo para alcançar o Sucesso. Antes disso, ele generosamente nos concedeu a entrevista abaixo.

JazzMan!: O que foi que te chamou a atenção no jazz? Como foi o processo até se tornar um dos grandes escritores brasileiros do gênero?

Roberto Muggiati: Com pouco mais de dez anos de idade, ao ouvir naquelas velhas bolachas de 78 rotações-por-minuto os sons de Art Tatum, Nat King Cole, Louis Armstrong e Duke Ellington, percebi que aquela música era diferente das demais — era mais viva, mais inteligente, menos previsível e programada. Daí para o bebop de Charlie Parker e Dizzy Gillespie, para as invenções pianísticas de Bud Powell e Thelonious Monk, para o saxofone cool de Lester Young, foi a descoberta do jazz moderno, complementado depois pela escola da Costa Oeste (Stan Getz, Gerry Mulligan e Chet Baker, Shorty Rogers e seus grupos, a orquestra de Stan Kenton).

Como escrevia desde pequeno, a carreira enveredou para o jornalismo (e depois para os livros) e escrever sobre jazz — a música que amava acima de todas, foi um passo natural.

JM: Desde 2005 estamos tendo uma onda crescente de festivais de jazz pelo país. Os Festivais de Ouro Preto e Rio das Ostras já são reconhecidos como alguns dos melhores do mundo. Você acredita que prefeituras, produtoras e empresários estão descobrindo o poder do jazz?

RM: Com certeza. Você já ouviu falar dos festivais de Manaus, de Guaramiranga (no Ceará), de Joinville (Santa Catarina) e dezenas de outros “pocket festivals” nas capitais do Brasil. A maioria conta com patrocinadores públicos ou privados, indicação de que os marqueteiros descobriram finalmente o poder de penetração do jazz e a sua marca de qualidade e sofisticação.

JM: Como você avalia a difusão do jazz no Brasil?

RM: Ainda é pequena, apesar dos sites e blogs que existem. Mas publicações especializadas são raras, ou sazonais. Se você se der conta de que uma revista de uma grande editora sobre rock – a Bizz, da Abril – deixou de circular, a situação é ainda mais difícil para o jazz. Mas, graças principalmente à internet, o jazzófilo – como o jazzista – sabe se virar e encontra suas fontes de informação.

JM: No livro New Jazz: de volta para o futuro, você escreve a respeito de músicos que ficaram conhecidos como os Young Lions, surgidos nos anos 80 e 90 com a proposta de preservar uma tradição jazzística. Quais as diferenças entre essa geração mais recente e as anteriores, das décadas de 60 e 70, e quais as contribuições dos Young Lions para o futuro do jazz no século XXI?

RM: A geração dos irmãos Marsalis & Cia teve mais acesso do que as anteriores ao aprendizado não só do jazz, como da música em geral. (Muitos, como Wynton e seu irmão saxofonista Branford, são também exímios executantes do repertório erudito). Mas esta geração – embora toque admiravelmente bem – se viu condenada a uma releitura de todas as escolas do jazz que a antecederam, sem a capacidade de criar algo “novo”. (Este problema da criação do “novo” se aplica também a todas as outras artes: pintura, literatura, teatro, etc. — é uma espécie de característica da época, um momento, talvez, de apreender tudo o que já foi feito antes de começar algo novo, um momento de espera).

JM: O crítico inglês Stuart Nicholson, em seu livro Is Jazz Dead? (Or Has It Moved to a New Address), gerou polêmica ao dizer que o jazz europeu detém os reais inovadores do jazz contemporâneo, pois essa geração de Wynton Marsalis cristalizou o jazz em uma música baseada no tradicionalismo e esqueceram da necessidade de criatividade e inovação. Você concorda com as palavras de Nicholson?

RM: Nem o jazz morreu, nem se mudou para um novo endereço (a comunidade dos euros). Podemos dizer que se espraiou por uma série de novos endereços e, registre-se aí, além da contribuição européia, as contribuições latino-americana (Brasil, Argentina, Cuba, México), asiática (Japão, China, etc), africana e por aí vai.

JM: Como você avalia os músicos que surgiram a partir dos anos 2000? Qual a proposta da nova geração?

RM: É uma geração pulsante de talentos, experimentando todo tipo de formatos musicais e explorando todas as possibilidades no campo da instrumentação. A meu ver, um fato importante é a ascensão da mulher, não mais presa ao papel da crooner, mas competindo com os homens em instrumentos “viris” como o contrabaixo, a bateria, o trombone e o saxofone. Sem mencionar que a grande band-leader e orquestradora da década é uma mulher, Maria Schneider.

JM: Fale-nos um pouco sobre o Improvisando Soluções, seu mais recente livro. Como surgiu a idéia de escrevê-lo?

RM: Como eu relato no próprio livro, a idéia tomou corpo a partir de um curso que dei em Porto Alegre em fevereiro de 2006, no Espaço Cultural Santander, sobre os Cem Anos do Jazz, três palestras de três horas que tiveram a ocupação da sala completa, incluindo homens e mulheres nas faixas etárias de 16 a 80 anos. A receptividade deste público de quase cem pessoas me despertou a idéia de escrever um livro sobre “vivências do jazz”, sem elaborar demais na parte técnica ou musical, mas enfatizando as lições de vida dos mestres do improviso.

JM: Neste livro, você relata uma passagem em que o jazz o salvou de um suicídio. Em algum outro momento o jazz o influenciou em outras decisões importantes?

RM: Não só nesta ocasião crítica, mas em situações do dia-a-dia, o jazz sempre contou muito em minha vida — na tentativa de tocar saxofone, estudando dez anos com o Mauro Senise, como na cobertura de shows e festivais, na descoberta de novos álbuns dos grandes mestres e também de músicos “menores” porém altamente significativos. O jazz sempre atuou no meu mecanismo de memória como a famosa “madeleine” proustiana, cada época ou momento de minha vida amarrado a esta ou aquela música. Basta ouvir hoje, por exemplo, Sarah Vaughan cantando Over the Rainbow acompanhada do saxofonista Cannonball Adderley que eu viajo na máquina do tempo até aquele ano mágico de 1958, meio século atrás, e revivo exatamente o que eu fazia, o que eu sentia na ocasião.

JM: Você cobriu o Festival de Montreux (1985 a 1988) e a maioria das edições do antigo Free Jazz. Quais as lembranças mais marcantes destes festivais?

RM: Existem os punti luminosi, como as apresentações de Hermeto e o dueto de Hermeto com Elis (1979), de João Gilberto (1985), a volta de Miles Davis aos palcos (1985), tudo isso em Montreux, a big band de Gil Evans no Hotel Nacional, o show grátis de Sonny Rollins no Parque da Catacumba, no Rio, a entrevista exclusiva de uma hora com Chet Baker e sua apresentação no primeiro Free Jazz, em 1985; a Mingus Band com Elvis Costello no MAM; ali mesmo, o conhecimento dos novos talentos de Terence Blanchard, Nicholas Payton, James Carter, John Pizzarelli, a comovente apresentação de Michel Petrucciani no Hotel Nacional; e, também ali, a do veterano violinista Stephane Grappelli; a maestria de veteranos como Lee Konitz, Art Farmer e Johnny Griffin. Rever Griffin (no Rio) e Dexter Gordon (em São Paulo 1980 e Montreux 1986) foi viajar de volta a Londres em 1962-63, quando eles passaram cada um um mês inteiro no Ronnie Scott's Jazz Club. Dizzy Gillespie e sua United Nation Orchestra no Free Jazz. Enfim, são momentos marcantes de música, que a gente não esquece jamais.

JM: Uma última pergunta para descontrair: no hino do Flamengo há os versos que dizem: "Eu teria um desgosto profundo/Se faltasse o Flamengo no mundo...". Se fosse o jazz que faltasse, como seria?

RM: Eu teria um desgosto profundo se o jazz faltasse, mas isso nunca vai acontecer. A propósito, há uma cantoria que rola nos estádios brasileiros entre as torcidas que é puro jazz, o refrão de When the Saints Go Marchin' In — tararará, tararará, tararará-rá-rá-rá-rá, tarará, tará, tarára, tarará, rá-rá-rá-rá! Repito a você a pergunta que até hoje ninguém me respondeu: como foi que está canção de New Orleans veio parar nas arquibancadas do Maracanã? Tenho a minha teoria: ela chegou através das charangas, aquelas bandinhas de torcida, como a famosa banda do Bangu e a Charanga do Flamengo, que captaram When the Saints através de discos ou até através das apresentações pela rádio e TV do incrível Booker Pitman. É um mistério digno de uma profunda pesquisa. Quem se habilita? JM

Título: Improvisando Soluções
Autor: Roberto Muggiati
Editora: Best-Seller
Ano: 2008
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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Mia Couto: "Sou moçambicano de uma minoria"

Um dos maiores escritores moçambicanos da actualidade, Mia Couto, concedeu uma entrevista ao jornalista brasileiro Leonêncio Nossa, do jornal "Estado de São Paulo", na qual aborda diversas questões, desde a literatura até às relações culturais entre os países que se exprimem em português.
Como não podia deixar de ser, Mia Couto, fala também da situação que atravessa Moçambique, esse país do outro lado do mundo, muito desconhecido pelos brasileiros, mas apelidado por outros como sendo "A pérola do Índico".
Não resisto a chamar a atenção de todos para a entrevista, que pode ser lida na íntegra no blog: wwwnantchite.blogspot.com, sob o título "África, com amor e raiva".
Aí vai um excerto da referida entrevista:

"O senhor sempre faz questão de ressaltar que é moçambicano. No dia-a-dia, por ser branco, sente não ser visto como moçambicano?
Eu sinto que sou moçambicano de uma minoria. Sinto isso, o que dói. Mas não é que me sinto de outro lugar ou de outra nacionalidade. Sei que muitos amigos que são negros têm o mesmo drama que eu. Nasceram dentro da língua portuguesa, viveram uma cultura igual à minha, de língua portuguesa, e têm dificuldades de se reencontrar neste espaço comunitário. Há muito escritor moçambicano que tem o mesmo distanciamento em relação àquilo que é cultura popular. Eu me defino como um diverso, sou moçambicano, sim, esse é o eixo central, mas também sou português, e também sou brasileiro. Alguma coisa que devo à inspiração. Eu sempre dizia que a literatura era o lugar em que eu ia viver. Eu não sou só escritor. Eu só me sinto vivo e me sustento enquanto leio e escrevo neste universo, sou muito brasileiro nesse aspecto. Meus grandes mestres foram Drummond de Andrade, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Adélia Prado. Os nomes da referência são muito mais brasileiros que portugueses e moçambicanos".

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Festival Tudo É Jazz 2008

ENTREVISTA EXCLUSIVA - Maria Bragança

Foto: Divulgação

Por Leonardo Alcântara (JazzMan!) e Fernanda Melonio


De volta às Gerais, mas só de passagem... A saxofonista mineira Maria Bragança, hoje radicada na Alemanha, será uma das atrações de hoje do Festival Tudo É Jazz. Ela concedeu uma entrevista exclusiva ao site JazzMan!, onde falou um pouco da carreira e do seu trânsito constante por diversos estilos musicais.


JazzMan!: O que foi que te chamou a atenção na música? Como foi descobrir que queria ser musicista? Fale-nos um pouco do começo de sua carreira.
Maria Bragança: Ah, várias coisas me chamaram a atenção na música: a sensação de poder dividir um prazer, um momento de satisfação plena com o outro, algo como comungar ou ter um orgasmo ou compartilhar uma experiência e poder repassar esta emoção... A música leva a um prazer e também a um questionamento existencial, social, filosófico... Quanto a descobrir que queria ser musicista, na verdade não foi exatamente uma escolha: me escolheram. A música é uma herança dos Braganças, ela fez parte da minha infância em Itabira.

JM: Quais as suas principais influências? Pra você, qual nome representa uma verdadeira escola do saxofone no Brasil?
MB: No Brasil, não existe uma escola especifica de saxofone, e sim uma literatura musical que se chama choro, no qual o saxofone do compositor Pixinguinha, e outros se destacam. O saxofonista brasileiro que considero uma referência é, sem dúvida, Paulo Moura.

JM: Você reside na Alemanha desde 1988. O que a levou a tomar essa decisão? Sua música é mais conhecida lá do que no Brasil?
MB: Tive a oportunidade de fazer o curso de saxofone clássico com grandes mestres como Ian Roth, Arno Bomkamp... Conheci um grande pianista brasileiro chamado Roberto Szidon e fizemos apresentações na Suíça e na Alemanha. Na Europa, já fiz vários concertos, não só de musica clássica como musica brasileira... Acho que talvez ganhe mais destaque por ser estrangeira.

JM: Como você avalia a difusão da música brasileira pelo mundo, especialmente Europa?
MB: De 10 anos para cá tivemos uma grande melhora.

JM: Você sempre se mostrou versátil em seus trabalhos, transitando em vertentes que vão do Erudito ao Popular. Como é transitar em várias linguagens? O que você busca com isso?
MB: Faz parte da minha formação, sou formada em violino. No saxofone gravei Bach, Villa Lobos, Darius Milhauld, acho que faz parte da nossa cultura “multiculti”, e estamos no século XXI... Já fizeram tudo ou não? Com esse trânsito entre as diversas linguagens, busco um caminho, uma expressão, uma linguagem, uma forma de ser... Mas não tenho a intenção e nem a pretensão de ser algo inédito.

JM: Como será o seu show no Festival "Tudo É Jazz", em Ouro Preto? Como conseguirá resumir para o público um repertório tão diversificado como o seu? O que podemos esperar?
MB: Me disseram que é uma mistura bem sucedida... Vá lá pra conferir!


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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Festival Tudo É Jazz 2008

ENTREVISTA EXCLUSIVA - Dudu Lima
Foto: Cézar Fernandes

Por Leonardo Alcântara (JazzMan!)

Definido pelo guitarrista Stanley Jordan como um dos "melhores contrabaixistas do mundo", Dudu Lima é um dos nomes mais importantes da atual cena instrumental brasileira. Seu senso criativo, aliado a um ouvido produtivo, faz com que o músico seja reconhecido e requisitado para tocar nos principais festivais do Brasil e do Mundo.

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Quem esteve no Rio das Ostras Jazz & Blues Festival viu a apresentação marcante de um artista em puro momento de inspiração, revelando um músico que sabe o que está fazendo. Se há uma definição para a sua música – se é que isso seja possível –, me arrisco a dizer que é "colorida" e reflete com competência a alma e a essência de Minas Gerais, um estado conhecido por sua diversidade geográfica, cultural e racial.

Aliás, Minas Gerais, que sempre revelou personalidades ilustres, como Santos Dumont, Carlos Drummond de Andrade e Pelé, que encantaram o mundo exibindo criatividade e genialidade, hoje pode se orgulhar de Dudu Lima, um mineiro de "mão cheia" que faz da sua arte, sua história. Ou seria o contrário?

Dudu Lima concedeu uma entrevista exclusiva ao blog JazzMan!, onde falou do começo da carreira, da parceria com o guitarrista Stanley Jordan e sua participação no Festival Tudo é Jazz.

JazzMan!: Você começou a tocar baixo acústico muito jovem. O que foi que te influenciou a ponto de despertar o desejo de ser músico?

Dudu Lima: Foi um verdadeiro chamado, pois de repente comecei a apreciar o som do contrabaixo nas músicas. Eu tive sorte de ter em casa pessoas que ouviam sons de qualidade, apesar de não tocarem. Um dia estava assistindo a um show e tive a forte sensação que tinha que tocar o contrabaixo. Comecei tocando o elétrico e em seguida já veio o acústico que sempre me atraiu.Tive a sorte de ter ouvido essa voz bem novo e de obedecê-la e é a mesma voz que me convida até hoje!!! Espero que ela nunca pare de me chamar para esse universo tão especial que é a Música!!! Junto com o meu primeiro contrabaixo ganhei uma fita de vídeo com um show do Jaco Pastorius e isso foi decisivo para o minha visão do contrabaixo como um instrumento de possibilidades ilimitadas. Em seguida conheci Eddie Gomez e Ron Carter o que me trouxe a paixão pelo baixo acústico.

JM: Você já formou grandes parcerias com músicos brasileiros e estrangeiros, além de se apresentar em grandes festivais no Brasil e no mundo. Quais momentos mais significativos você destacaria em sua carreira?

DL: Eu destacaria aquele momento inicial que foi o responsável pelo amor pela música e a vontade de tocar. Ele foi o responsável por todos os outros que vieram.

Dentre esses momentos posteriores já na vida profissional eu destacaria a formação do meu primeiro trio, a convivência com grandes músicos em uma casa de Jazz em Juiz de Fora que é minha terra natal; (essa casa se chamava Jazz Club), a gravação de meu primeiro CD solo (Regina), o encontro com os meus parceiros musicais que são tantos que seria injusto citar nomes, além dos encontros musicais com Hermeto Pascoal que gravou no meu CD Nossa História e do trio com Stanley Jordan e Mamão(Azymuth)

JM: O guitarrista Stanley Jordan disse que você "está entre os melhores contrabaixistas do mundo". Como surgiu essa parceria?

DL: Eu comecei a tocar com o Stanley em 2001 no Visa Jazz Festival na cidade de Búzios. Ele veio tocar no festival e queria uma banda brasileira. O produtor Mauro Afonso (produtor musical que atua no Rio) encaminhou meu material para o Stanley e depois veio a notícia de que eu tinha sido escolhido.

Já no primeiro encontro para os ensaios que fizemos em Búzios a energia foi mágica e o som fluiu de uma forma maravilhosa. Assim, vieram as outras tours e hoje já fizemos nesses 7 anos quase 130 shows em altíssimo astral.

O Stanley é uma pessoa maravilhosa além de ser um músico genial e eu fico muito feliz com essa amizade e relação musical que temos. Ele participou do meu último CD e DVD ao vivo e eu e o Mamão participamos de seu novo CD que foi lançado esse ano nos EUA.

JM: Durante seu show no Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, reparamos algo em comum com Stanley Jordan: a maneira percutida de tocar baixo, assim como ele faz com a guitarra. Fale-nos um pouco dessa técnica.

DL: Essa técnica é o tapping onde tocamos o instrumento de forma bem percussiva e o Stanley teve o mérito de codificá-la para o jazz de uma forma ímpar. Eu já era pesquisador do uso do tapping no contrabaixo e com esse contato tive a oportunidade de entrar nesse universo do Stanley de perto e isso me influenciou de uma forma muito forte. Aí tive a idéia de também utilizar o tapping no contrabaixo acústico o que gerou uma sonoridade bem interessante. Sem dúvida o uso do tapping gera outras possibilidades a nível de fraseado e de desenhos rítmicos o que enriqueceu muito as sonoridades que exploro.

JM: Você está para lançar o CD/DVD "Ouro de Minas", com composições de Milton Nascimento e João Bosco. Quais as diferenças que você enxerga entre esse novo álbum e os anteriores? Qual a importância desses compositores para sua carreira?

DL: A influência e importância desses compositores é muito grande, pois além do fato de ser mineiro sou fã da música mineira e ela me acompanha desde a infância. Ano passado, quando estava finalizando o CD e DVD 20 anos de pura música ,onde gravei "Clube da Esquina 2", eu percebi a grande quantidade de músicas mineiras que fazem parte do meu repertório de shows e visualizei este novo projeto, o qual batizei de "Ouro de Minas", pois verifiquei que isso era ouro puro e me dediquei a selecionar as músicas para o trabalho.Como tinha várias leituras para músicas do João Bosco resolvi convidá-lo para participar do CD e DVD e o resultado foi maravilhoso. O João Bosco é um músico da pesadíssima e nos brindou com uma participação genial na faixa "O Ronco da Cuíca". Em seguida selecionei músicas de outro gênio que é o Milton Nascimento, além da belíssima "Nascente" de outro grande compositor mineiro que é o Flávio Venturini. Além dessas músicas inclui 2 autorais inéditas e uma parceria minha com o Ricardo Itaborahy que é o pianista do meu trio e um grande parceiro musical.

A diferença desse material para o anterior é o formato que gravamos que foi ao vivo, porém sem público, já que o CD e DVD anterior foi gravado ao vivo e com público. E é claro que o momento diferencia os trabalhos já que a música que fazemos é espontânea e corresponde ao pensamento atual e com todas as idéias e inspiração que o cercam.

JM : Nos últimos anos, tem havido um grande debate a respeito da questão de direitos autorais, principalmente no que tange ao compartilhamento de músicas na internet. Enquanto artista de música instrumental, você acredita que isso ajuda ou atrapalha?

DL: Eu acho que a internet ajuda enquanto veículo de democratização do acesso às obras de todo o universo musical mundial. O que ainda não encontramos é a forma de controle pelos compositores da arrecadação de direitos autorais. Outro problema que percebo é com relação a poesia que representa a capa de um disco(seja vinil ou CD) e todas as informações nela contidas como os músicos que estão tocando e outros detalhes técnicos que são de suma importância para a obra.

No entanto, acho que essa estrada está sendo trilhada e não temos como interromper a caminhada. A solução é encontrar caminhos para não esquecer dos direitos autorais, pois a obra é o bem mais precioso do compositor e também não limitarmos o acesso ás mesmas já que a música é para ser ouvida por todos.

JM: Por fim, vamos falar sobre o Festival Tudo é Jazz. Enquanto músico, o que você acha de termos no Brasil um festival deste porte, que busca dar acesso à boa música, e o que o público pode esperar do seu show?

DL: Eu acho fundamental para o universo da boa música a realização de eventos desse porte em um país tão musical como o nosso. Precisamos difundir a cultura musical ligada à boa música e precisamos conquistar ouvintes e a melhor forma é a realização de festivais onde levamos a música viva literalmente para as pessoas.

É muito importante que cada vez mais esses exemplos de Rio das Ostras e Ouro Preto sejam seguidos como já está acontecendo em alguns locais como Ibitipoca, Ipatinga, Guaramiranga e tantos outros festivais que se realizam pelo país afora. Tomara que a idéia sempre se multiplique.

O público pode esperar um show com muita energia e muita criação que são as marcas registradas do meu trabalho. Para mim é um prazer muito grande participar de um evento como esse e tenho certeza que o pau vai quebrar!!!!!!!!!

Site oficial: http://www.dudulima.com/
MySpace: http://www.myspace.com/dudulima

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terça-feira, 1 de julho de 2008

Duo Gilson Peranzzetta – Mauro Senise faz apresentações no Rio de Janeiro para o lançamento de "Êxtase", seu novo trabalho


Por JazzMan!

Gilson Peranzzetta e Mauro Senise escolheram a Sala Cecília Meireles e a Modern Sound para o lançamento de Êxtase, o mais novo trabalho do Duo. Eles se apresentam nos dias 05/07 (Sala Cecília Meireles) e 10/07 (Modern Sound).

Êxtase é o quarto CD da parceria, que já existe há 18 anos com apresentações por todo o Brasil e América Latina.

As novas canções são de autoria de Gilson Peranzzetta e tratam de temas diversos, como em “Mestre Sivuca”, uma homenagem ao grande instrumentista paraibano que morreu em 2006 e “Reizinho”, uma homenagem a Enzo Peranzzetta, neto de Gilson.

O show será formado por Gilson Peranzzetta – piano, composições, arranjos e regência e Mauro Senise – sax alto e soprano, flautas e Piccolo, e contará com a participação especial da Orquestra dos Sonhos.

Eliana Fonseca Peranzzetta, esposa de Gilson e produtora do show, falou ao Blog JazzMan! sobre a parceria de seu marido com Mauro Senise e sobre o show na Sala Cecília Meirelles:

JazzMan!: Como começou a parceria e amizade de Gilson Peranzzetta com o instrumentista Mauro Senise?

Eliana Peranzzetta: A parceria começou com um convite do produtor Ney Murce, em 1990, para que Gilson Peranzzetta e Mauro Senise fizessem um espetáculo juntos. A afinidade entre eles foi imediata e desde então iniciaram um trabalho que já dura há 18 anos, rendeu quatro CDs gravados – Êxtase é o quarto – e incontáveis apresentações por todo o Brasil e América Latina. E quanto à amizade nem se fala, são inseparáveis.

JM: O que o público pode esperar do CD "Êxtase" e de seu show de lançamento, no próximo dia 5, na Sala Cecília Meirelles?

EP: O público vai assistir a um espetáculo de nível internacional, com dois dos maiores instrumentistas brasileiros da atualidade interpretando as composições e arranjos de Gilson Pertanzzetta com excelência, técnica, entrosamento e, sobretudo, mostrando como eles encaram a sua arte – com emoção e amor à música. O espetáculo contará com a participação super especial e querida da Orquestra dos Sonhos.

SERVIÇO:

Gilson Peranzzetta e Mauro Senise – lançamento CD Êxtase

Gilson Peranzzetta – piano, composições, arranjos e regência

Mauro Senise – sax alto e soprano, flautas e Piccolo

Participação especial – Orquestra dos Sonhos


SALA CECÍLIA MEIRELES - (Largo da Lapa 47. Tel: 2224.4291)

Data - 5 de Julho (sábado)

Horário – 20 horas

Ingressos – 10,00 (inteira) e 5,00 (meia)

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MODERN SOUND (R. Barata Ribeiro, 502. Copacabana. 2548.5005)

Data – 10 de Julho (quinta-feira)

Horário – 19 horas

Entrada Franca( necessário fazer reserva)

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Mais informações e imagens – http://www.maurosenise.com.br/

Asssessoria de Imprensa – Nani Santoro – (21) 3324.5200/9855.1939

nanisantoro@uol.com.br

http://www.gilsonperanzzetta.com.br/
http://www.maurosenise.com.br/

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